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mitos sexistas:
homem para guerra x mulher para natureza: arquétipos a partir da perspectiva cisgênera (que alimentam a violência de gênero).

escrito por a Andrógina   
01 de dezembro de 2021

Ler e estudar gênero e sexualidade é ser impregnada de referências mitológicas, que explicam sobre várias culturas, e ser conduzida sempre a um mesmo ritual: que legitima e endeusa o sexo reprodutivo, pois ele é a ferramenta que cria pessoas. Mais mão de obra ou mais soldados para uma sociedade, e mais corpos reprodutivos. Este comportamento ritualístico dilui-se e endossa, no decorrer da história, noções como família, propriedade privada e a instituição matrimônio.
 

Somos alimentados por esses arquétipos, a partir de deuses ou histórias, pois eles são o norte que nos direcionam para o "caminho certo" e que nos enchem de endorfina e confiança, já que repetimos o que seus ancestrais fizeram e, se é feito há tanto tempo, por que estaria errado? O problema é que não está, mas isso não quer dizer que seja o único jeito de uma vida digna e legítima, socialmente, pois as pessoas nascem e contribuem de formas muito mais complexas além de como genitoras.

Digo isso não só sobre pessoas trans, questões de gênero e sexualidade, mas também sobre a doença de uma cultura que legitima a violência quando diminui ou condiciona a existência de corpos por suas anatomias e seus respectivos “papéis” e “naturezas” como a única forma de serem sujeitos genuínos. É muito comum a falácia sobre a discussão dos homens cis na guerra ou a força que eles teriam, assim como a exaustiva e forçosa comparação da mulher cis com a natureza e a força criadora. Ambos baseiam-se em leituras superficiais a partir de interpretações binárias de cada sexo, e possuem raízes firmes, disseminando-se ainda hoje em todos os campos da cultura.  Tornou-se uma obsessão constante engendrar o mundo a partir da perspectiva da vagina e do pênis: sol e lua, ying e yang, noite e dia (e a madrugada ou o entardecer?) e por ai vai. É nesse ponto que perdemos nossa humanidade integral e resumimos nossa existência a meio quilo de carne entre as pernas.

 

Talvez esse seja o motivo da ausência de planejamento familiar, descontrole de natalidade, demonização do aborto e assim como de qualquer outra ação que faça do ser humano dono de si mesmo. Assim, tudo o que dizem  compor uma pessoa parece servir a um único instinto, e o cérebro vira um punhado de fibra nervosa em uma bandeja esperando para ser devorado pelo tempo.
 

Os corpxs (corpis) possuem diferenças anatômicas e sociais, e estas deveriam ter mais atenção nas pautas políticas, para que seja ampliado para além de um modelo pseudo-divino sobre a procriação. Ess lugar mitológico reforça a existência genitalista e reduz a capacidade humana ao genital, e isto, ao invés de ser um passado que nos conta algo sobre a humanidade, vira uma armadilha epistemológica, da qual ninguém é capaz de sair se não tiver certeza da sua mediocridade genital e sua servidão social reprodutiva.

texto revisado por Julia Bernardet.

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