Suspensão de um corpo que é mapa: quando a humanidade vai deixar de ser apenas corpo?
escrito por a Andrógina
03 de fevereiro de 2024
A suspensão da ideia de corpo, como exercício de abstração, abre espaço para uma compreensão mais ampla e inclusiva da democracia substancial e uma melhor noção sobre o que é dignidade. Convida-nos a reconhecer que a identidade não se restringe à aparência física ou a características biológicas específicas. A identidade é um conjunto de recursos que permite ao indivíduo territorializar-se para, assim, ter competência e dignidade de viver de modo legítimo em um mundo com diversidades. Obviamente, isto não compete a todos, já que os signos sociais e as categorias conseguem adaptar-se a uma boa parte de pessoas, mas há uma parcela que possui outras dinâmicas. Em uma sociedade democrática, o que fazem com esses outros corpos? E se forem nossos esses corpos?
Ao ampliar a ideia de identidade, reconhecemos que as pessoas têm diferentes formas de experienciar a vida. Isso inclui gênero, orientação sexual, origem étnica, habilidades, crenças e valores, entre muitos outros aspectos que compõem a identidade de uma pessoa, condensando-a em um ser social.
A suspensão da ideia de corpo e a ampliação da ideia de identidade nos desafiam a questionar as normas sociais que limitam a liberdade de expressão e a autonomia individual. Estas estão longe de serem as questões mais fáceis de se resolver, mas, assim como um para a formação desses limites em um mapa ou um corpo precisa de concessões e negociações, mas no fim acordos temporários, que se seja, a fim de criar novos limites e territórios. Convidar-se a cartografar-se nas diversas formas de ser e existir promove uma compreensão de humanidade que, em meio a séculos de estudo, ainda não superamos pois existe um vício genital em categorizar ideias, e esquecem que a ideia é algo da humanidade e não do sexo.
É importante destacar que essa suspensão da ideia de corpo e essa ampliação da identidade não visa negar a importância do corpo, mas sim reconhecer que a identidade vai além das limitações físicas e construções sociais restritivas, é uma ampliação infinita de possibilidades físicas e desconectadas, desenfreadas. É um convite para olhar os mapas de nossos corpos e perceber quais fronteiras vamos deixar que vejam.
texto revisado por Julia Bernardet.