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Por que existem crianças trans?

a compulsão cisgênera pela identidade sexualizada. 

escrito por a Andrógina   

07 de setembro de 2021

Apesar da infância ser algo recentemente discutida nos campos da psicologia e da pedagogia por exemplo, a sexualização compulsória dos corpos, inclusive dos "pré-sexuais”, parece fomentar a instituição corpo com ferramentas reprodutivas e reduz a condição social a uma hierarquia genitalista de aspecto binário (apenas pensando no pênis e na vagina plenos).

 

Quando se pensa em um corpo, não se considera apenas a carne. É preciso lembrar que essa substância (carne/corpo) foi conduzida pela perspectiva da cisgeneridade e da heterossexualidade para um caminho de segurança e legitimidade social que se reforça por um ciclo imaginário sobre a condição humana. Esta que no caso é garantida por um discurso exclusivo sobre utilitarismo reprodutivista, genitalismo e binaridade, compulsoriamente reproduzidos pelos meios de comunicação que impregnaram toda a formação sobre o que vem a ser um ser humano, inclusive antes de sua existência (como a cultura sexista dos "chás de revelação").

 

Isso não quer dizer que a cisgeneridade não exista, mas que ela passa por um processo assim como qualquer outra identidade de gênero. A diferença é que rituais cisgêneros estão tão presentes que nos soam como naturais, quando na verdade foram naturalizados pela repetição. Além de não se aplicar a todxs corpxs (lê-se "todis corpis"), sua falsa natureza se comprova na medicina,  com as variações de cromossomos, entre os mais diversos campos. Assim, identidades tidas como "dissidentes”, na verdade são muito mais comuns e legítimas do que queremos admitir (como exemplo, a informação de que há mais pessoas interesexuais do que albinas no mundo*).

 

Ser criança, ou um ser “não- adulto”, é um processo de formação, sendo a identidade um destes processos. Negar à criança a legitimidade de sua formação e identificação é violar um direito fundamental de um ser social que tem o direito de compreender-se e entender sua própria existência com dignidade e cidadania, o que requer outras faculdades além do genital, pois ser homem ou mulher são capacidades que atravessam a condição macho e fêmea, mas que não dependem só deles. A democracia em uma sociedade não pode configurar-se em uma hierarquia genitalista uma vez que a instituição corpo ou a substância carne devem valer-se do exercício cartográfico ampliado, pois possuem territorialidades múltiplas que devem ser mapeadas.

 

Existem crianças, trans ou cis, contudo, vale sempre a pena lembrar que, ao falar de gênero, não se está tratando de sexualidade, mas de identidade. Apesar de ainda vivermos em uma sociedade predominantemente cisgênera** que endossa uma hierarquia genitalista violenta, talvez compreender a liberdade de uma criança de se entender no mundo independente de como seja, venha a ser uma (ou a única) lição melhor de humanidade sobre o que é empatia e dignidade.

*  “ Pesquisadores como Anne Fausto-Sterling, professora de Biologia Molecular da Universidade de Brown, no estado americano de Rhode Island, e especialista no tema, garante que o número é o dobro: um bebê” Disponível em:  <https://super.abril.com.br/saude/o-terceiro-sexo/>. ou < https://drauziovarella.uol.com.br/sexualidade/conduta-para-lidar-com-pessoas-intersexo-no-nascimento-divide-especialistas/ >.  Acesso em: 20 de Julho de 2021

**  tendo a cisgeneridade reflexo do machismo e sexismo, visto o movimento feminista e a necessidade da criacao da palavra genero, inclusive;

texto revisado por Julia Bernardet.

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