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"Linha viva" : geopolítica do sensível.

escrito por a Andrógina   

29 de março de 2021

Falar da linha e sua morte requer que também falemos sobre o que a torna viva. Entender  o que a define e o que a potencializa. O que transcende a linha além da rasa função de corte ou um simples risco sobre uma superfície qualquer.

 

A linha se forma quando contém um corpo de saberes e convicções, os quais definem limites. É essa ação que permite compreender a legitimidade de um espaço que parece alimentar-se de suas fronteiras, mas ganha em si particularidades únicas que não pertencem a nenhum lado, a não ser a si mesma.

 

Reduzir a linha a uma função torna-a superficial e diminui sua pulsão. Reforça tudo o que se vê de uma perspectiva de mundo binário, no qual: cores são preto ou branco, corpos são homem ou mulher e ignora-se um espectro de possibilidades de cinzas e de identidades tão legítimas quanto.

 

Além de múltipla, a linha define-se como forma, pois além de seu próprio corpo (volumes, contrastes, texturas no bidimensional e a infinitude no tridimensional). Mesmo aparentemente sozinha, suas bordas criam outras linhas e ganham corpo, aquilo antes definido como corte.

 

Quando mais de uma, ela exercita coletividade, revisando suas características e existências. Além da composição estática, há a interação entre elas e o que as cerca. Um exercício constante de geopolítica sobre fronteiras e leis, até onde quem define o que. Torna-se necessário compreender a vida da linha e percebê-la como espaço legítimo de pluralidades. Quando a linha é inserida  no espaço, torna-se parte dele, e, além disso, cria o seu próprio.

 

É preciso pensar na linha não somente em escalas corriqueiras como entre papel e caneta, mas como a linha em escalas colossais, que forma países e constrói fronteiras, cria e divide leis. Já em escalas microscópicas, a linha se mostra cheia de possibilidades, com estruturas, redes e conexões. É o verdadeiro exercício de repensar onde está o espaço real da coletividade, limítrofe ou não-hegemônica, a partir daquilo que fazia apenas divisão.

 

A linha não é a medida do homem

texto revisado por Julia Bernardet.

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