top of page

"Desgenitalização"

:corpe em democracia.

escrito por a Andrógina   

04 de fevereiro de 2021

O genitalismo é resultado de uma cultura binária que conduz os discursos a pensar numa existência reduzida ao genital, que não só guia as políticas, como preserva uma estrutura sexista na qual o acesso ao poder não se dá por um corpo, mas pelas impressões e privilégios do sexo que carrega. Contudo, a formação de uma identidade necessita de outras particularidades, visto até que mesmo as condições macho e fêmea não são exclusivas, tampouco fixas, mesmo dentro dos discursos médicos (se vocês não sabem, XX e XY são apenas duas entre variações de cariótipos).

Pensando nisso, uma das problemáticas atuais pode se voltar à construção do conceito "machismo" ou até mesmo "feminismo", que  apresenta em sua etimologia a genitalização dos corpos em um discurso social. Não podemos negar que tais expressões atendem as noções binária e sexualizadora. Contudo, ondas feministas surgiram junto ao termo "gênero" e a teoria queer adiciona uma extensão ao que se conhece como identidade, inicialmente sexualizada, mas ainda não expressa em todas suas potencialidades, devido à falta de vocabulário e conceitos que suportem outras lógicas.

 

Se tornar um ser social não é apenas desempenhar sexo, mas saber ler seu corpo a partir de outras instituições e responsabilizar-se por elas. Desgenitalizar discursos é compreender o corpo além do sexo. Também significa romper com uma estrutura que hierarquiza genitais e reforça vícios de comportamento. Assim, tal ação é essencial para desestruturar a naturalização da violência e permitir o exercício da democracia para outras identidades. Corpos com vagina não são necessariamente mulheres e corpos com pênis não são necessariamente homens, assim como nem todos os machos e fêmeas são garantia de reprodução. Papéis sociais não devem reduzir nossas existências.

 

Repensar identidades além do sexo é permitir que a genitália retorne à sua posição de uma dentre tantas características humanas, ao invés de permanecer como determinante ou algema para a formação social, como é sempre incitado pelo sexismo. Existências extra-cisgêneras 'hackeiam' um princípio social perverso que nos ronda há séculos, pautado em uma ideia de anatomia, amontoando pênis acima de vaginas, reduzindo corpos a uma função reprodutiva, hierarquizando violências a partir do sexo e retirando das identidades o exercício da democracia.

 

Que gênero seja uma expressão e sexo um segredo.

texto revisado por Julia Bernardet.

bottom of page