A identidade afeta profundamente o machismo
escrito por a Andrógina
25 de agosto de 2023
O Machismo é uma lógica que pratica a superioridade moral a partir do espectro masculino cisgênero, e tudo o que sai desse recorte específico é submetido a potencial violência a fim de legitimar uma hierarquia baseada na virilidade em seus mais ímpetos gestos.
A estrutura machista não se importa com nada além dela mesma, fazendo com que as mulheres cisgêneras acreditem que está nelas reside algum problema, sendo colocadas sempre como fracas e loucas. Isso reflete, também, na negligência política e social com mulheres transgêneras e todos/todes fora deste espectro masculino e cisgênero. O padrão se repete em toda a estrutura e pode ser comprovado pelo acesso aos espaços sociais a partir do gênero. Espaços femininos não foram construídos por uma diferença biológica ou por uma especificidade, mas sim para o reforço da exclusão e eliminação atroz de identidades femininas em lugares públicos e de poder.
Existe uma doença criada pelo machismo que condena tudo o que não se mostra masculino, ou macho, pois é no mito da virilidade que se centraliza o poder. O feminino (cisgênero) criado por esse sistema acredita que faz parte dele, quando, na verdade, é a mais abjeta alteridade, sendo esta a lógica que reduz corpos à genitália. Defender existências trans, por exemplo, é exercer a cidadania e extirpar as hierarquias que nivelam corpos com base em características físicas, incluindo o que se tem no meio das pernas (o que devemos concordar ser uma prática desumana achar que se pode identificar a genitália de alguém, e isso para provar o que?).
A prova pseudo-biológica de superioridade masculina é uma barreira ideológica que reprime quem tem vagina e quem está no espectro do feminino (sexo e gênero são coisas diferentes) como acordo epistemológico que passa de geração em geração, como contos de terror sobre histeria, aborto e ditadura trans. A questão dessa biologia tão preocupada em caracterizar (e hierarquizar) um corpo não está no fato de ser ou não uma verdade, pois do que adianta este tipo de afirmação se, supostamente, nosso próximo objetivo civilizatório é alcançar a democracia substancial criando uma sociedade que se torne justa entre corpos? De que adianta provar uma superioridade de gênero, de raça ou qualquer outro aspecto que divida a humanidade, se o sistema em que vivemos e queremos precisa ser essencialmente democrático?
Por isso, a identidade gera um movimento que rompe com qualquer condenação de corpos a partir da anatomia pois ela amplia a noção da relação entre corpo e democracia, desestimulando estereótipos e narrativas pseudo-científicas sobre quem é superior, e começa a ver, de modo efetivo, potencialidades que partem de qualquer pessoa pois tudo o que se conhece como talento ou condição física é construída e estimulada como uma cultura de performances sociais restringidas a certas pessoas, o que, definitivamente, não constitui um projeto substancialmente democrático.
texto revisado por Julia Bernardet.