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“O Pecado Genital”:

Quando o sagrado de um, define o profano do outro.

escrito por a Andrógina   

20 de janeiro de 2021

             

O poder é objeto extensivamente analisado por pensadores em todas as áreas do conhecimento. Contudo, o cansaço das narrativas e a interseccionalidade deliberaram  um exercício para repensar um estado pós estrutural, que manobra conceitos como a  biopolítica de Foucault e a Necropolítica de Achille Mbembe.

 

Há um recorte com consequências perversas que apadrinha a anatomia branca e homem e resulta na persistência dos discursos médicos e arquivos históricos. A violência expressa e o desconforto do não-homem e o não-branco induziu, e ainda induz, uma emergência à subversão dessa agenda, a partir de movimentos sociais como o feminismo e as revoluções sexuais, raciais e de classes. Tais discussões sociais foram potencializadas por uma consciência política da alteridade, abordada por pensadoras desde Beauvoir até Angela Davis, incluindo reflexões sobre identidades, com Judith Butler e a teoria queer, que  vislumbram esses "outros" como sujeitos. 

Entender um sujeito além do sexo, devido a uma ancestralidade epistemológica ainda incita uma lógica reducionista nos discursos. É necessário compreender que macho e fêmea são construções que respondem às estruturas abissais de nossa sociedade, pois parecem cumprir um acordo social que assegura uma preocupação reprodutiva e de hereditariedade de modo a assegurar a propriedade e os meios de produção.

Contudo, o corpo atravessou todo esse processo intacto em sua natureza pois sempre existiram intersexuais, andróginos, afeminados, sapatonas, todes registrados pela cultura, arte, história e inclusive a medicina. A negligência com esses corpos representa não só um limite da lei, mas uma ação contra o exercício de democracia, liberdade e cidadania, como aparece no contexto de Gayle Rubin. É preciso reforçar que pela genealogia do sexo e do gênero, a estrutura permanece sexualizadora.

Representar o feminino pela vagina é compreensível num panorama em que esta foi excluída pelo patriarcado como acesso legítimo ao prazer, mas até que ponto falar de uma vagina é falar de uma mulher? Tal conduta, ao invés de personificar um corpo, o reduz em uma lógica genitalista. Uma vagina é tão fálica quanto um pênis, um não é a negação do outro, nem necessariamente opostos. Pensar sobre isso é se permitir ampliar a democracia, as feminilidades e demais identidades, sem sexualizar suas existências.

 

A legitimidade de um corpo deve atravessar outras capacidades além da anatômica. Isso torna o sexo uma condição biológica e a identidade um processo de formação, que se debruça também no gênero (lembrando de identidades travestis, homens trans, binários: transvestigeneres) ou em qualquer configuração que possa ser legitimada por uma democracia, atendida pela segurança e pelas leis e pautas políticas. Essa conduta jamais deve por si demonizar a cisgeneridade, mas apresentar a possibilidade de que um corpo social não seja achatado por um genital.

texto revisado por Julia Bernardet.

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