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Etapas da Transição: um caminho de dentro pra fora e de fora pra dentro
escrito por Lana Moraes
21 abr 2025
A transição de gênero não começa com hormônios, roupas ou nomes. Ela começa antes — muito antes. No início, você está imerso em um mundo cisgênero que projeta sobre você um conjunto rígido de expectativas baseadas em um gênero pré-definido. Essas expectativas não te representam, mas, no começo, você tenta se encaixar. Até que, com o tempo, algo começa a incomodar. Uma sensação profunda de inadequação, difícil de explicar em palavras, mas impossível de ignorar: aquilo que esperam de você simplesmente não é você.
A partir daí, inicia-se um processo de reflexão. Você começa a questionar os valores sociais atribuídos a cada gênero, os papéis impostos, os padrões prontos. E, nesse questionamento, nasce a rebeldia — como defesa e também como busca. Você se rebela não por não saber quem é, mas justamente para poder descobrir. É um ato de coragem.
Nesse movimento, você descobre que existem outras formas de viver. Outras formas de existir no mundo. Outras pessoas que, como você, decidiram não seguir o roteiro imposto. Isso amplia seu horizonte. Você começa a se reconhecer nas dissidências — e percebe que pode escolher: viver fora do binário ou se reterritorializar em algum ponto dentro dele.
Ao tomar essa decisão, você passa a repensar o que é ser homem, o que é ser mulher — e entende que essas definições não vêm de fora. Não são determinadas por genitais. Ser homem ou mulher é uma afirmação íntima, profunda, que se manifesta de forma única em cada pessoa.
A partir daí, você começa a construir ferramentas para viver sua identidade com mais plenitude. Pode ser com apoio terapêutico, com amizades que te enxergam de verdade, com mudanças na aparência ou na linguagem. Cada passo é uma afirmação de liberdade.
É importante lembrar que, dentro do espectro de gênero, muitas pessoas escolhem habitar os gêneros binários, enquanto outras se encontram em identidades não binárias. E tudo isso é legítimo. Gênero é um espectro — fluido, diverso, vivo.
O mais essencial em todo esse processo é o exercício da liberdade, da autonomia e principalmente da Democracia sobre a dignidade do próprio corpo. Recusar que a genitália dite uma única forma de existência. Porque, quando o corpo deixa de ser uma sentença, ele se torna um campo de potência — e, independente de gênero ou sexo, se abre a todas a capacidade humana.