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'INTERLEITURAS' (a leitura dentro da leitura): Sobre a arte que mobiliza pessoas e pessoas que mobilizam a arte.

escrito por a Andrógina   

13 de janeiro de 2021

Em um brevíssimo resumo, pela genealogia conhecida da arte, esta mostrou-se inicialmente como uma ferramenta de lealdade social que construiu documentos e registrou a monarquia e outras formas de dominação. Quando se estabilizou como tal artifício, passou a atender com maestria um processo de massificação na esfera da estética. Mais recentemente, se mostra como intenso processo de comunicação que atravessa o pós-estruturalismo ou até mesmo o contemporâneo de Agamben.

Entender a arte como algo que subverte o efêmero valor estético e toma valor pela potência de mobilizar mudanças é o que torna viva a Instituição Arte, que pode transitar como um bidê, sopas em lata, ou uma semana de arte moderna. Eventos preciosos, por concentrar pessoas e opiniões diversas em torno delas, muitas vezes opiniões frustradas ou descontentes, que se sobrepunham e se desencontravam, mas no final desse processo promoveu novas leituras em lugares ainda não lidos.

Assim, o movimento de cultura, como tudo o que fazemos, é um reflexo entre o convívio social e o utópico que permite a suspensão dos significados e abertura a novos começos e fins. Quando isso acontece, há uma ‘beleza’ que a estética não suporta, mas a toma para si: a possibilidade da mudança, que se traduz em um momento quando nos unimos, discutimos, discordamos e reunimos novas vivências para compartilhar esses conhecimentos.

Entender esse processo geralmente não é algo que acontece de forma imediata, apesar da aparente demasiada aceleração da informação, discussões que levam boas opiniões distintas só conseguem ser destiladas ou entendidas com o passar do tempo, e não com o tempo sendo um agente responsável, mas quem está dentro dele (ou seja, todos nós) como agentes de Bourdieu, que vão direcionar o presente e o futuro de discussões passadas. É assim que aprendemos a ler e a aprender.

 

Há uma satisfação em corrigir o passado, ação essa que deve ser celebrada, mas consciente, pois parte do processo de ‘correção’ está em aceitar (e não esquecer) o que estava errado, contando com a imperfeição inclusive do ato de quem corrige, ou tem poder para. Entender o passado, é ter consciência de que ele nunca foi contado de uma forma hermética, ou seja, para expandirmos nosso saber precisamos ouvir outros espectros de vista e entender que o futuro é apenas uma possível leitura presente de um livro do passado.

Quando uma obra de arte canaliza essas discussões, sinto que, mesmo de forma não presencial, foi restaurado um espaço não só de discussões, mas de união e humanidade onde aprendemos falando e também ouvindo. Vendo situações como essa, percebo o quanto isso aparece na vida social e política, e como a cultura, mais uma vez, é extensão desse mundo social e utópico, que logo torna-se político. Afinal, o que seria da política se não fossem os sonhos?.

O que está sendo falado e discutido são as vozes de pessoas que percebem o mundo por outro prisma, e aceitar isso nada tem de romântico e simplista. É apenas a forma de entender a organicidade do conhecimento, como ele afeta as dinâmicas sociais para solucionar problemas, para entender as coisas, e quando alcançamos um senso comum, é quando esse conhecimento já foi estabilizado e se torna uma prática social. Já o conhecimento é um exercício constante e coletivo, não só social como de humanidade.

 

Pela Arte que mobiliza pessoas e por pessoas que se mobilizam com a arte.

texto revisado por Julia Bernardet.

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